sábado, 1 de agosto de 2009

Artigo - "A Carta Recebida".

A CARTA RECEBIDA

O porteiro estendeu a carta. Léo não agradeceu e enquanto abria a carta, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa. Uma surpresa que expressou a dor tomou-lhe conta do rosto. Palavras e incisas: - Sua Mãe faleceu. Enterro 10 horas. Léo continuou parado, como uma estátua olhando para o vazio. Nenhuma lágrima lhe veio nenhum aperto naquele coração. Era como se um estranho houvesse morrido. Por que nada sentia pela morte da velha? Com um montão de pensamentos o confundido, avisou a esposa, tomou o van e se foi, vencendo o silencio e os quilômetros de estrada enquanto girava a cabeça a mil. Não queria ir ao funeral e, se estava indo era apenas para que o pai não ficasse mais amargurado. Ele sabia que mãe e filho não se davam bem. A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais algumas acusações, Léo havia feito as malas e prometendo nunca mais botar os pés naquele local. Um emprego bom, casamento, telefonemas ao pai pelo Ano Novo... Ele havia se desligado da sua família não pensava na mãe e a última coisa na vida que desejava na vida era ser parecido com ela. O velório: - Poucas pessoas. O Pai está lá, pálido e choroso. Quando reviu o filho, as lágrimas correram silenciosas, foi um abraço de “Volta do Filho Pródigo ao Lar”, silêncio. Depois, ele viu o corpo sereno envolto por um lençol de rosas brancas - como as que a mãe gostava de cultivar. Léo não verteu uma única lágrima, o coração não pedia. Era como estar diante de um desconhecido, um estranho, um... O funeral: - O sabiá cantando, o sol se pondo. Na hora da despedida o pai colocou-lhe algo pequeno e retangular na mão: - Há mais tempo você poderia ter recebido isto - disse. Mas, infelizmente só depois que ela se foi eu encontrei entre os guardados mais importantes... Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a não no bolso e sentiu o presente. O foco mortiço da luz do bagageiro revelou uma pequena carta. Abriu-a curioso. Páginas amareladas. De repente. Então, Léo acariciou as pétalas e lembrou-se da mãozinha da mãe podando, adubando e cuidando com amor. Por que nunca tinha percebido tudo aquilo antes? Uma lágrima brotou como o orvalho, e erguendo os olhos para o céu dourado, de repente, sorriu e desabafou-se numa confissão de alívio: - "Se Deus me mandasse escolher, eu não queria ter tido outra mãe que não fosse você velha! Obrigado por tanto amor, e me perdoe por haver sido tão cego?"

Graciano Caseiro – Colunista, Divulgador e Comunicador

www.gracianocaseiro.blogspot.com/ gracianocaseiroproducoes@gmail.com

Um comentário:

  1. Que possamos sempre podar nossas atitudes e dar oportunidades a aqueles que necessitam.

    Galera do Grupo Amigos da Zona Oeste.

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