terça-feira, 18 de abril de 2017

HISTÓRICO DA COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBOLA DONA BILINA DA SERRA DO RIO DA PRATA DE CAMPO GRANDE

Hoje é um dia histórico para um pouco resistente, povo que luta há mais de 300 anos para manter viva sua história e suas memórias, “povo da floresta, da roça”, que parece invisível, pois as leis insistem em fingir que eles não existem, não reconhecendo a agricultura no Município e não querendo reconhecer sua situação de População Tradicional.
Povo que ainda transporta suas compras e mercadorias da roça no lombo de burros, que não tratados como tais, mais sim como amigos de trabalho na vida sofrida.
Povo que insiste em gritar “estou aqui, existo, insisto e resisto...” Povo descendente de negros escravizados, dentre outras etnias, que mesmo tendo se tornado um pouco “embranquecido”, mas que ainda guardam dentro do peito o sentimento de pertença de seus ancestrais negros, reafirmando seus traços e miscigenação genealógica - cultural, bem como a cultura da agricultura que é seu maior legado preservado até hoje. Entendemos que a trajetória da época no Rio da Prata foi ocupada por muitos europeus, o que justifica várias pessoas da comunidade de olhos claros e traços europeus, bem como, de negros e indígenas. Estabelecem critérios de auto-reconhecimento quanto Comunidade Remanescente de Quilombo, ou seja, não negam suas raízes, se vêem como remanescentes de quilombolas.
O bairro de Campo Grande nos primeiros anos da década de 40 era considerado como o Império da Laranja, surgiu junto a colonização do Brasil. O vale que começava no Rio da Prata e terminava no Cabuçu, era habitado pelos índios Picinguabas, foi doado pela Coroa a Barcelos Domingos. Este em 1673 construiu a capela de Nossa Senhora do Desterro, que foi transformada na Matriz de Campo Grande. Junto a igreja achava-se o poço Nossa Senhora do Desterro de onde a população abastecia-se. A região começou a progredir em 1878, quando da inauguração da estação de campo Grande, da Estrada de Ferro Central do Brasil. A partir de então a comunicação tornou-se mais rápida para o centro da cidade e a região começou sua marcha rumo ao vertiginoso desenvolvimento que a transformaria numa verdadeira cidade.
No Rio da Prata, Mendanha e Guaratiba ainda encontram-se muitas comunidades que se dedicam a agricultura. Dentre os cultivos mais desenvolvidos estão a banana, o caqui, a manga, o abacate, o aipim, o chuchu dentre outros. Na avicultura destacam-se criações de galinhas caipiras para o próprio consumo, o cavalo e burros que é um meio de transporte bastante comum. Existem muitos moradores da comunidade que nunca foram ao Centro do Rio de Janeiro, que não vão ao centro de Campo Grande sozinho e até hoje permanecem não alfabetizados, vivendo em casas de pau a pique, sem energia elétrica, banheiro e água encanada.
Local onde ainda resiste as Ruínas da escola de pedra do Sr João das Furnas, escola onde somente homens estudavam e que anteriormente foi senzala, a Pedra dos Índios, onde segundo os antigos, foi moradia de índios, possuindo buracos redondos como se tivessem sido feitos com algum tipo de instrumento.

Local onde resiste o imponente Jequitibá, que resistiu ao ciclo do café, ao ciclo do carvão e ao ciclo da laranja com sua imensa copa ele se destaca de toda a floresta. Com seus 15 metros de circunferência, que segundo pessoas da área denotam cerca de 1.500 anos de existência, viu muitas gerações se criarem aos seus pés.
Na Comunidade do Rio da Prata ainda é cultural o dialeto ancestrais como “ BITU” ( Que significa avalanche), “BAITA” (Que significa a alguma coisa grande ) e “BICONGA” (comida, feita de milho, quase tipo a pamonha.)

Dona Bilina foi parteira e rezadeira na serra da região durante anos e trouxe ao mundo muitas crianças desta comunidade, as quais lhe chamavam de vó, em sua homenagem a Comunidade local solicitou a certificação como: “Quilombo Dona Bilina” do Rio da Prata de Campo Grande – Maciço da Pedra Branca – Rio de Janeiro/RJ e através da PORTARIA Nº 88, DE 13 DE FEVEREIRO DE 2017, publicada no DOU de 14/02/2017.

 O Presidente da Fundação Cultural Palmares, no uso de suas atribuições legais conferidas pelo artigo 1º da Lei n.º 7.668 de 22 de agosto de 1988, em conformidade com a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT sobre Povos Indígenas e Tribais, ratificada pelo Decreto nº 5.051, de 19 de abril de 2004, o Decreto n.º 4.887 de 20 de novembro de 2003, §§ 1º e 2º do artigo 2º e § 4º do artigo 3º e Portaria Interna n.º 98, de 26 de novembro de 2007, publicada no Diário Oficial da União n.º 228 de 28 de novembro de 2007, Seção 1, f. 29, resolve:
Art. 1º REGISTRAR no Livro de Cadastro Geral nº 018 e CERTIFICAR que, conforme a declaração de autodefinição e o processo em tramitação na Fundação Cultural Palmares, as comunidades a seguir SE AUTO DEFINEM COMO REMANESCENTES DE QUILOMBO:
1.COMUNIDADE DONA BILINA, localizada no município Rio de Janeiro/RJ, registrada no Livro de Cadastro Geral n.º 018, Registro nº 2.493 fl.114 - Processo nº 01420.014760/2014-20.

Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

Agradecemos ao Instituto Panela de Barro
://www.facebook.com/paneladebarroinstitutoetnicoculturaleambiental/

A entrega da certificação ocorrerá no evento: “Palmares Itinerante no Rio de Janeiro – que será nos dias 18 e 19/04/2017 de 13 as 19 horas no Museu do Amanhã.

Fonte: Rita Caseiro (Diretora Executiva da Agroprata)

           Instituto Fundação Panela de Barro

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