sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Caqui da Pedra Branca - @groprata

O Caqui da Pedra Branca

Publicado por editor em 23 de julho de 2009

O maior parque ecológico do Rio de Janeiro, localizado na Zona Oeste, a parte mais alta da cidade, é protegido por cerca de 150 famílias de pequenos agricultores. Eles se estabeleceram antes da região ser reconhecida como Parque Estadual da Pedra Branca, em 1974. Gerações de trabalhadores rurais já cultivavam na região banana, laranja, manga, abacate, aipim, chuchu, entre outros. Considerado a maior floresta urbana do mundo, o parque possui cobertura vegetal típica da Mata Atlântica, além de grandes riquezas da fauna e da flora brasileira.

caqui.jpg [1]A porta de entrada para esse paraíso natural é a comunidade rural do Rio da Prata, situado no Bairro de Campo Grande. Há cerca de 20 anos, as famílias cultivavam caqui e banana, mas sem foco em associativismo. Em 2000, a ONG Projeto Roda Viva [2]- voltada para educação e meio ambiente - estimulou os agricultores a formar uma cooperativa para trabalhar em conjunto e driblar as dificuldades. A iniciativa deu certo e transformou a rotina de pessoas simples, que passaram a ter mais força para comercializar seus produtos. Dentro do parque, eles cultivam um bananal coletivo com mais 2 mil pés. Em 2010, a Agroprata [3] completa dez anos e o grupo, com mais de 20 associados, comemora o aumento da produção agroecológica na região.

Com sede própria, construída com material ecológico, os agricultores iniciaram uma tímida produção de caqui-passa e banana-passa. Os produtos são vendidos na região e, há cinco anos, a Agroprata participa da feira orgânica, que acontece aos sábados, dentro do prédio da Emater (Av. Marechal Dantas Barreto, 95A).

O beneficiamento do caqui e da banana proporcionou ao grupo investir em outros co-produtos. O agricultor Claudino decidiu transformar os caquis em vinagre e a experiência foi um sucesso. Muitos colegas não levaram a sério, mas a senhora Sampaia foi uma das que incentivou a produção. O tipo cultivado é o Rama Forte, aquele que tem formato achatado e pode ser consumido mole. A espécie tem baixa acidez e se adaptou bem ao clima da floresta. Para fazer o vinagre, eles separam as frutas machucadas, sem condições de colocar à venda. Foi do desperdício que surgiu um produto desenvolvido na região, que poderá mudar a história da Agroprata.

O vinagre de caqui dos agricultores do Parque da Pedra Branca é um exemplo de como a cadeia alimentar local deve se articular. Na Zona Sul do Rio de Janeiro, a Rede Ecológica [4] - formada por um grupo de consumidores que fazem compras coletivas - promove visitas à produtores rurais. Em uma dessas expedições culinárias pelo interior do estado, as chefs Teresa Corção e Margarida Nogueira conheceram a Agroprata.

A partir daí, outro ator social da cadeia entrou em ação: o chef de cozinha. “Os agricultores apresentaram o vinagre e disseram que não tinham conseguido vender nada. Trouxemos o que eles tinham e eu levei para os chefs Roberta Sudbrack, Rosa Herz (Celeiro) e Claude Troisgros. Todos adoraram e ficamos de organizar uma distribuição no Rio”, conta a chef Teresa, sempre entusiasmada com essas garimpagens da culinária. Os cozinheiros têm a missão de valorizar os alimentos tradicionais de sua região. Com habilidade e técnica, exploram o potencial gastronômicos dos alimentos e o exibem no cardápio de seus restaurantes.

Fundadora do Instituto Maniva e co-lider do Slow Food, associações que dão apoio à agricultura familiar, Teresa também apresentou a descoberta no evento Rio Orgânico, que aconteceu no mês de maio. Ela levou os agricultores e a gestora Rita de Cássia para interagir com consumidores, produtores, cozinheiros e entusiastas da alimentação orgânica. O processo ainda é incipiente, mas dá para vislumbrar, daqui há algum tempo, o vinagre da Agroprata circulando pelas principais casas da gastronomia carioca. A chef Teresa também vai apresentar o caqui-passa para o time de ecochefs que coordena no Maniva.

“Estamos buscando apoios como este para que a agricultura familiar seja reconhecida”, explica Rita, que cursa o oitavo período de direito e pretende atuar na área de política ambiental. Com o apoio do Banco do Brasil, os associados vão construir um telecentro para aulas de informática e alfabetização. E a Farmanguinhos atua com projeto de cultivar e comercializar plantas medicinais. “Nosso compromisso é de preservar o parque e estimular a produção rural orgânica”, finaliza. A articulação com a cadeia alimentar é fundamental para desenvolver a agricultura local e recuperar saberes e tradições culturais. Os entusiastas da gastronomia e os chefs de cozinha têm papel fundamental nesse processo de transmissão, divulgação e consumo de práticas alimentares regionais.

Equipe Malagueta
Texto: Juliana Dias
Revisão: Juliana Esteves e Fernando Oliveira
Edição de imagens: Carolina Amorim


Artigo impresso do site Malagueta Comunicação: http://malaguetacomunicacao.com.br

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[2] Projeto Roda Viva : http://www.rodaviva.org.br/

[3] Agroprata: http://www.agroprata.blogspot.com/

[4] Rede Ecológica: http://www.redeecologica.org/

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